sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

EDITORIAL:A crise econômica e a saída para os trabalhadores

Caros trabalhadores, a crise econômica já se faz sentir na nossa empresa. Férias coletivas, linhas de exportação diminuíram a produção e começam a ocorrer demissões. É fácil perceber quem irá pagar por essa crise: nós, os trabalhadores. No entanto, isso não é um destino ao qual nós estejamos condenados. Nós podemos e devemos reverter essa situação. A nossa única saída é a organização independente – portanto, por fora do sindicato patronal – para garantirmos os empregos de todos os trabalhadores.
Temos de ter clareza: se for necessário, para evitar as demissões, temos todo o direito de fazer greve, na garantia dos postos de trabalho. O Japão declarou recessão, a Finlândia pediu empréstimo para o FMI para não entrar em falência e a União Européia já sente com força os efeitos da crise. É impossível imaginar que nossa empresa está fora da economia e não será vítima da crise. Não podemos ficar vendo a crise chegar e sermos expectadores da demissão de nossos companheiros trabalhadores.
Se há a iminência de países falirem, não podemos descartar a possibilidade da Whirpool falir, já que sua produção está ligada diretamente à especulação financeira (bolsa de valores). Os capitalistas – especuladores, banqueiros, latifundiários e grandes empresários e suas corporações – são unidos em todo o planeta e vão debitar a conta da crise, que eles próprios criaram, em nós trabalhadores. Os governos, que injetam dinheiro no mercado para salvar o capitalismo, são seus aliados. Como os capitalistas são unidos na sua tentativa de responsabilizar os trabalhadores pela crise, nós também temos de ser unidos para resistirmos e criar uma alternativa a esse sistema que comprovou seu fracasso histórico. Caso a previsão de quebras de empresas se confirme, não há outra saída a não ser os trabalhadores autogerirem a empresa para garantir o direito ao trabalho.
Em 2001, a Argentina, adepta da receita de governo neoliberal, entrou em uma crise econômica sem precedentes e houve falência geral das empresas. Os trabalhadores viram como única alternativa na preservação de seus empregos – e na sua própria sobrevivência! – a autogestão operária das empresas. Ora, se os capitalistas quebram suas próprias empresas com uma crise que eles próprios criaram, é direito dos trabalhadores garantirem sua subsistência e de suas famílias ocupando e gerindo as empresas.
Portanto, nós trabalhadores temos que nos organizarmos para garantir nossos empregos.
Nenhuma demissão! Os trabalhadores não são responsáveis pela crise;
Se houver demissões, que respondamos com greve! É nosso direito.

Rádio Peão
radiopeaoindependente@gmail.com
http://radiopeaoindependente.blogspot.com/

A CRISE CHEGOU À FÁBRICA

Para a Rádio Peão é absurdo afirmar e continuar dizendo que a crise é internacional e ainda não chegou ao nosso país, mais especificamente em nossa fábrica. No Brasil, a Companhia Vale, a maior empresa brasileira do ramo da mineração, anunciou a demissão de 1.300 funcionários e 5.500 outros são obrigados a aderir a férias coletivas. A Vale também divulgou na imprensa que duas unidades irão “parar temporariamente”. A ArcerlorMittal (grupo dono da Vega do Sul) anunciou que pretende demitir até 9.000 empregados no mundo, inclusive no país. Na Whirpool, é necessário derrubar as afirmações segundo as quais não existe crise.
Primeiramente, várias demissões vêm ocorrendo. É visto por todos o grande número de trabalhadores que estão sendo demitidos na fábrica, mês a mês, depois do estouro da crise, mas é difícil chegarmos a números, porque eles não são oficializados pela empresa. Outro problema é o grande remanejamento de operários com a intenção de demiti-los. Em razão do tamanho da fabrica, é difícil estimar quantos trabalhadores são demitidos sob o pretexto de remanejamento.
Outro indício da crise é o fechamento de linhas e a denúncia, feita pelos trabalhadores das empresas terceirizadas responsáveis pelos estoques e o transporte, de que os estoques estão abarrotados de produtos à espera de vendas, principalmente nas linhas de exportações. A situação dos estoques e as demissões não são ainda piores por causa da situação das vendas no mercado interno. O país ainda está ainda aquecido e tem fôlego neste fim de ano para vendas, promovidas principalmente pelas datas de fim de ano natal e ano novo.
Outra circunstância agravante são as férias. Muitas linhas vão parar e dar férias, situação que a direção da fábrica promove em virtude dos estoques e da queda de vendas para o exterior.
A partir desta situação de crise os dirigentes da fábrica tomam estas medidas de demissões e férias, esperando para ver como o mercado interno e externo se portará a partir do ano que vem. Nem a empresa, nem o sindicato pelego e patronal se declararam oficialmente aos trabalhadores sobre a crise que se abateu em nossas portas, em uma atitude de clara enganação aos operários. Principalmente o sindicato que deveria ser o responsável de estar informando e alertando sobre a crise, e, mais que isto, protegendo os trabalhadores das demissões. Mas todos nos já estamos cansados de saber para quem o sindicato trabalha e por quem ele luta.
É necessário atenção de todos, pois os períodos de crise fortalecem a situação de assédio moral por parte de dirigentes, que se aproveitam do medo dos trabalhadores de serem demitidos para coagi-los, garantindo seus interesses de exploração do trabalho.
Se a pouco tempo vivíamos uma época de vacas gordas com muitas ofertas de emprego e tranqüilidade de sair da empresa, hoje vemos que a situação está se revertendo, em direção da crise que chegou. Por isto proclamamos a todos: Força e Coragem para enfrentar esta situação de desempregos e de recessões vindo de todos os lados!
Trabalhadores da Whirpool, é preciso lutar e resistir, abaixo o desemprego e a exploração!
*Grégorio Mendes-Trabalhador e comentarista da Rádio Peão.

A DEMOCRACIA ENTROU NA FÁBRICA.

Indubitavelmente a democracia é o melhor modelo de organização política que a humanidade já excogitou. No entanto, lá onde se introduziu no contexto de relações capitalistas de produção, vive em permanente crise. Por sua própria lógica interna, tais relações produzem desigualdades sociais e exclusões que corroem pela base a idéia mesma de democracia. Democracia que convive com miséria e exploração se transforma numa farsa e representa a negação da própria democracia. É notório que a democracia sempre parou na parta da fábrica. Lá dentro vigora, com elogiosas exceções, a ditadura dos donos e de seus administradores. Não obstante esta contradição, nunca cessa a vontade de fazer da “democracia, valor universal”, sonho imorredouro do notável teórico italiano, Norberto Bobbio, ou a “democracia sem fim” de Boaventura de Souza Santos, quiçá o melhor pensador político português, quer dizer, a democracia como projeto a ser realizado em todos os âmbitos da convivência humana e indefinidamente perfectível.
Em todas as partes, se procura romper o pensamento único e o modo único de produção capitalista, inventando formas participativas de produção e abrindo brechas novas pelas quais se possa concretizar o espírito democrático.
Recentemente, tive a oportunidade de assistir o exercício democrático de produção dentro de uma fábrica de cerâmica na cidade de Neuquén no sul da Argentina, na porta de entrada da Patagônia. Trata-se da Cerâmica Zanon, que pertencia a um grupo econômico multinacional, cujo dono principal era Luis Zanon, da empresa Ital Park, testa de ferro da privatização das Aerolineas Argentinas e um dos cem empresários mais ricos na Argentina. Este empresário, em 2001, estava prestes a decretar a falência da empresa. Chegou a demitir 380 operários e, ao mesmo tempo, tomava milionários empréstimos de vários organismos financeiros, para com a falência sair enriquecido. Tratava-se, portanto, de uma falência fraudulenta, como depois foi provado.
Os operários resistiram, começaram a se organizar e se articular com outras entidades sindicais, movimentos sociais, universidades, igrejas e diretamente mobilizando a sociedade civil local e até a nacional. Todos os intentos por parte da polícia de desaloja-los foram frustrados. Os operários assumiram a direção da fábrica de forma democrática, organizaram a complexa produção de cerâmica, de alta qualidade, com maquinaria moderna de origem italiana. Decretada a falência em 2005, trocaram o nome da fábrica. Agora se chama “Fasinpat” (fabrica sin patrones). Democraticamente ajustaram os departamentos, introduziram a rotatividade nas funções para todos poderem aprender mais, fizeram parcerias com a universidade local. Não só. A fábrica não se reduz a produzir produtos materiais, mas também cultura, com biblioteca, visitação de escolas, shows multitudinários no grande pátio, colaboração com os indígenas mapuche que ofereceram sua rica simbologia assumida na produção. Lá trabalham 470 operários produzindo mensalmente 400 mil metros quadrados de vários tipos de cerâmica de comprovada qualidade.
Fazia gosto de ver o rosto dos operários desanuviados, libertos da servidão do trabalho alienado, contentes de estar levando avante a democracia real nas relações produtivas que se revertiam em relações humanizadoras entre eles. Sua postulação é que o Estado expropie a fábrica, sem pagar as dívidas por terem sido fraudulentas e entregue a gestão aos próprios operários a serviço da comunidade através de obras públicas como construção de casas populares, postos de saúde, colégios e outros fins sociais. Como se depreende, a democracia pode sempre crescer e mostrar seu caráter humanizador.

* Leonardo Boff - filósofo e teólogo da Libertação


COMO TRABALHAR COM MEDO?

Como trabalhar em um clima de medo? Talvez seja essa a pergunta que muitos trabalhadores da Whirlpool estejam se fazendo hoje. Pais e mães de família, jovens que pagam seus estudos. Centenas de pessoas com mais de 40 anos que sabem que uma demissão pode significar uma tragédia, tendo em vista que o mercado de trabalho dificilmente os aceitaria de volta. A crise, já assumida pela chefia, assusta toda a população da fábrica, mas principalmente os operários, que em muitos casos não tiveram oportunidade de estudar ou se formar na profissão que queriam. É essa gente, que durante anos batalhou para colocar as máquinas a trabalhar, que agora está sendo submetida a um clima de medo e insegurança, sabendo que a qualquer momento pode perder seus empregos.
Em todas as linhas e em todas as áreas da fábrica, os boatos e as incertezas correm na mesma velocidade que as demissões, tão mascaradas pelos supervisores. As vítimas mais visadas são o que possuem mais tempo de casa e, consequentemente, recebem salários maiores. Na tentativa de cortar gastos, pelo menos é essa a desculpa, essas pessoas são demitidas para que entre gente nova, que até então estava desesperada para conseguir um emprego e acaba se sujeitando a baixos salários e ritimo de trabalho desumano. Essa nova mão-de-obra é mantida a qualquer custo dentro da fábrica. Dessa forma, a Whirlpool passou de uma empresa que antes esperava seis meses para saber se ia contratar o funcionário a uma empresa que efetiva em apenas um dia. Um fato é importante ressaltar: essa leva de demissões não irá atingir apenas operários, mas também supervisores, engenheiros e quem precisar ser demitido para que os efeitos da crise atinjam menos os lucros dessa multinacional.
A crise causa medo, e o medo faz com que as pessoas tomem medidas desesperadas no intuito de manter seu emprego. Um exemplo disso são as pessoas que escondem suas contusões e machucados com medo de que isso cause seu desligamento da empresa. Ao fazerem isso estão causando danos irreparáveis a sua saúde. Muitas das lesões e machucados são adquiridos no chão de fábrica, na rotina diária.

*Agenor de Oliveira- Trabalhador e comentarista da Rádio Peão.