quarta-feira, 4 de março de 2009

Ucrânia: Trabalhadores ocupam a fábrica Kherson Oksana Boiko


Um protesto dos operários da fábrica mecânica de Kherson, na Ucrânia, decorre desde o dia 2 de Fevereiro, quando os operários ocuparam o edifício da administração. Durante uma semana, a ocupação foi manchete noticiosa, atraindo mesmo a atenção internacional.

Os operários actuaram decidida e responsavelmente e deram um exemplo para milhões de ucranianos, que sofrem diariamente humilhações e injustiça às mãos dos seus patrões. Os operários desta fábrica deram este passo, apesar da actual baixa intensidade do movimento dos trabalhadores na Ucrânia. Ao faze-lo, demonstraram, não apenas o seu próprio instinto - em luta pela sobrevivência - mas a sua preocupação pelo destino da sua fábrica.

A fabrica tem 120 anos. É a maior - provavelmente a única - fábrica de maquinaria agrícola na Ucrânia. Sofreu fortemente durante os anos 90 e, como muitas outras fábricas, quase colapsou a seguir à privatização após o colapso da economia planificada estalinista da Ucrânia.Com a sua velha maquinaria, era incapaz de competir efectivamente com o equipamento importado. Passou de um dono para outro, e para outro. Com cada transferência de propriedade, as condições de trabalho na Kherson pioravam. Atrasos nos pagamentos de salários eram frequentes e algumas vezes tiveram consequências trágicas.

Em 2006, um operário não conseguiu aguentar mais e enforcou-se no meio da fábrica. Isso naturalmente que enfureceu os outros operários e a administração finalmente arranjou dinheiro para os salários; com receio que se não o fizesse as consequências fossem catastróficas.

Nos últimos meses de 2007, Veio um novo dono, Alexander Oleinik, que acontece ser um dirigente do PArtido das Regiões (o partido russofano de Viktor Yanukovich). Começou uma “reestruturação” da fábrica, que foi pouco mais que uma desculpa para tirar os bens da empresa.

O novo dono não queria saber da sua responsabilidade em pagar os salários em atraso acumulados pelo seu antecessor, mesmo que tenha ficado com grandes stocks de mercadoria.

Em Março de 2008 estávamos com mais atrasos de pagamentos de salários. Em Setembro, deixaram de pagar completamente. Em Outubro cortaram 3 dias de trabalho por semana . Em Novembro foram planeados despedimentos e começaram as pressões para os operários chagar a “acordo”. Muitos dos mais jovens concordaram, não vendo futuro na fábrica. Isso deixou os operários mais velhos, que passaram a maior parte das suas vidas na fábrica.

Quando chegaram ao trabalho a 20 de Janeiro de 2009, viram um aviso que a tesouraria e o sector administrativo iriam ser mudadas para outra cidade. De imediato uma multidão se reuniu e ocupou as instalações, onde os trabalhadores se mantêm protestando contra o encerramento da fábrica.

A 2 de Fevereiro os operários constituíram o Conselho Operário e ocuparam em definitivo o bloco da administração. Esta novo corpo de auto-gestão, dirigido por um operário especializado, Lionid Nemchonok, exige o pagamento dos salários em atraso a serem pagos pelo patrão e o governo, a nacionalização da fábrica, o congelamento das contas bancárias de Olienik e que o estado assegure que a a fábrica se mantêm a funcionar A 3 de Fevereiro, os operários rebaptizaram a fábrica: Fábrica ESTATAL de Mecânica de Kherson”.

No dia seguinte, as autoridades da cidade apareceram para falar com os operários, no auditório da fábrica. O Presidente do Município começou por expressar a sua “solidariedade” com os trabalhadores. Disse ter um plano, mas não deu detalhes dele. Sob pressão, ofereceu um aval de 2 milhões de Grivna do orçamento social da cidade para os salários da fábrica. A proposta foi rejeitada pelos operários. Primeiro, só tinha que cobrir metade dos salários em atraso. Segundo, o orçamento social da cidade era para ajudar outros trabalhadores e não queriam ver os seus problemas resolvidos às custas de outros trabalhadores.

No último Sábado, realizou-se uma grande marcha de solidariedade. Mais de mil pessoas participaram, com muitos jovens da cidade, moradores e sindicalistas de outras cidades também estiveram presentes. Na frente da marcha iam os dirigentes do Conselho Operários, activistas de esquerda, (incluído militantes do CIT) e estudantes da Universidade de Simferopol.

Os cartazes levados pelos operários diziam”Façam os oligarcas pagara a crise” “Dêem salários aos operários e o controlo da fábrica!” , “Já não esperamos milagres, ocupámos a fábrica”, “Hoje Kherson, amanhã toda a Ucrânia”. Em resposta a políticos de partidos como o Partido Comunista, que apenas dão conforto, o principal slogan da marcha foi “Não fiques nos escombros, leva avante a greve!”

Entre os oradores estavam sindicalistas de outras cidades. Um prós a eleição de uma nova gestão de empresa e a contratação de pessoal técnico para preparar a fábrica para a produção. Como ele disse, se os operários exigem a nacionalização, tem de se discutir como é que a fábrica será gerida.

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