quarta-feira, 4 de março de 2009

Argentina: crise se aprofunda, desemprego aumenta e sindicalistas bloqueiam a luta da classe operária


Produção industrial em queda

Os efeitos da crise financeira mundial continuam se manifestando em índices que comprovam uma grande desaceleração econômica. A produção industrial Argentina voltou a cair pelo quarto mês consecutivo. Segundo dados divulgados pela Orlando J. Ferreres e Associados, a produção industrial caiu 12,5% em dezembro de 2008 e 9,1% no primeiro mês de 2009.

Responsáveis pela pesquisa afirmaram que a crise internacional “originalmente financeira” está apresentando “importantes efeitos negativos na economia global, o que inevitavelmente afeta as exportações industriais das economias em desenvolvimento, como a Argentina”.

Um dos setores industriais que mais sofreu com a crise é o automobilístico. O setor vem apresentando quedas consecutivas nos últimos meses. A produção de automóveis na Argentina em janeiro de 2009 foi de apenas 18.720 unidades, o que representa uma queda de 54%. Devemos destacar que o setor automobilístico foi um dos que mais cresceu nos últimos anos, depois da crise que a Argentina atravessou em 2001. Não obstante, nesse período de crise todas as contradições da economia capitalista são reveladas e o mesmo setor que vinha crescendo entra agora em recessão.

Essa queda na produção industrial também é confirmada pela Fundação de Investigação Economica Latino-americana (FIEL). Segundo a fundação, “desde agosto de 2008 o índice de produção industrial vem apresentando dados negativos. Estaria agora indicando um pico e estaríamos entrando numa fase de recessão industrial”. Teria chegado ao fim o ciclo de crescimento iniciado em 2002.


Novas demissões são anunciadas a cada dia

Todo esse processo que aponta para uma queda na produção industrial se traduz para a classe trabalhadora na forma de demissões e mais demissões. A queda na venda de automóveis, a baixa na produção, a queda da taxa de lucro das empresas, tudo isso se traduz em desemprego para a classe trabalhadora. Num cenário de crise, as indústrias buscam cortar gastos e as demissões são as primeiras medidas anunciadas pelos patrões.

Como noticiamos em artigos anteriores, desde o início do ano mais de 150 mil trabalhadores da indústria Argentina estão parados. Muitos tiveram suas férias ampliadas e esperam serem chamados de volta ao trabalho, outros já foram demitidos e hoje engrossam as fileiras do exército industrial de reserva, outros ainda estão na fábrica, mas tiveram seus salários reduzidos e temem pela demissão a qualquer momento. Diante da crise, essa é a situação real da classe trabalhadora. Mais uma vez são os operários que pagam pela crise.

Nessa última semana outras centenas de trabalhadores foram despedidos. A fábrica de caminhões da Iveco, do grupo Fiat, comunicou a demissão de 150 trabalhadores contratados. A Smata anunciou a demissão de mais 270 operários. Mas o maior corte de empregos foi anunciado pela Gestamp, do grupo Volkswagen. A empresa anunciou a demissão de 700 trabalhadores.


A burguesia do campo se levanta mais uma vez contra o governo

Apesar dessa situação dramática enfrentada pela classe trabalhadora, mais uma vez a luta política na Argentina se polariza entre os latifundiários e o governo. Tem se desenvolvido no último mês mais uma grave crise entre o governo liderado por Cristina Kirchner e a burguesia rural latifundiária. Da mesma forma como ocorreu no ano passado, o campo enfrenta o Estado e o pivô da disputa são os impostos cobrados sob produtos agrícolas para exportação.

O conflito já se arrasta por algumas semanas e nessa atual conjuntura, chama atenção a ausência da classe operária na luta política. Essa nova crise entre governo e os grandes latifúndios expressa mais uma vez a crise da direção revolucionária. Em meio a esta disputa estão os trabalhadores amargando os efeitos da crise e o crescente desemprego. Direções corruptas e aliadas ao peronismo kirchnerista garantem a manutenção da “ordem” afastando a classe operária da luta.

Hugo Moyano, caminhoneiro e principal dirigente da CGT, tem sido um dos grandes aliados de Cristina Kirchner nesta crise. É Moyano e a CGT que têm garantido até agora que o frágil governo de Cristina Kirchner se mantenha firme durante toda esta crise e possa aparecer até mesmo diante dos trabalhadores como o único governo capaz de enfrentar o campo.

É interessante notarmos que mais uma vez a luta se polariza entre dois setores da burguesia e, bloqueada pela sua direção traidora, a classe operária tem apenas assistido paralisada ao conflito. Para os trabalhadores argentinos, nem o Estado burguês nem a burguesia latifundiária representam alternativas para a luta. A classe operária precisa se libertar das direções traidoras e construir uma frente verdadeiramente operária que lute por seus reais interesses imediatos, pelo salário e pelo emprego.

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